20/05/2011

Jesus, Maria e José! Considerações sobre o KITdoMEC e outras coisas...

Hoje a tarde me surpreendi no face book com um comentário de um amigo sobre um vídeo bizarro postado por outro que eu, nem assisti. Enfim, dizia ele que quando a situação tinha então chegado no fundo do poço, alguém pegou uma pá e começou a cavar ainda mais. Assim também me sinto em relação aos descabidos comentários estapafúrdios que vem sendo veiculados sobre os vídeos e o kit contra homofofia do MEC. Não é possível levar em consideração citações editadas e demasiadamente reacionárias, que para piorar, as vezes são colocadas por jovens ou professores. Nem sei com qual dos dois “grupos” me sinto mais aflitamente atingido frente as opiniões caretas e pouquíssimo elaboradas sobre as questões que realmente devem ser discutidas mediante tal embate.
Mas em relação aos professores, é interessante destacar o conhecimento destes profissionais em relação aos PCN's – Parâmetros Curriculares Nacionais – editados ainda na década de 1990, ou ainda, dos dois livros organizados pela grande Guacira Lopes Louro – Gênero, Sexualidade e Educação e O Corpo Educado – duas referências absurdamente importantes e brasileiríssimas, ou quem sabe o conhecimento destes mestres se detenha em Sigmund Freud, Michael Foucault, Stuart Hall, não. Não. Nenhum educador teve o prazer de versar sobre a diversidade de identidades com as quais uma pessoa pode conviver durante sua existência e, desta maneira, colocar de uma vez por todas que não é um vídeo que determina as sexualidades de ninguém. Sim. As sexualidades, isto pois, é impossível pensar em conceitos “singulares” e não plurais em tempos de pós modernidade ou pós estruturalismo, enfim, pós um monte de situações anacrônicas como esta criada agora na sociedade brasileira.
Por que não lembrar do referendo sobre o desarmamento? Ainda hoje, escuto pessoas extremamente dignas que falam que os cidadãos tem o direito de ter armas e que os bandidos não vão entregar suas armas. À algumas, principalmente aos colegas professores, tendo responder e relativizar sobre qual seria enfim a utilidade de um objeto criado para matar em plena década de 2010? Frente à tantas e tantas “evoluções” que nossa raça criou, diante dos problemas enormes provocados por este consumo desenfreado e violência crescente, associado à degradação ambiental, é inadmissível que pessoas ainda morram de balas perdidas. Balas perdidas? Não. Achadas. Pela pobre sortuda pessoa. Ou então, situações do tipo o marido que deu três tiros na mulher, é, porque no Brasil, a cada quatro – 1, 2, 3, 4 – segundos uma mulher é agredida! Ou ainda, aqueles que morrem nos assaltos a mão armada com um tiro no meio da testa, e o filho da p... nem conseguiu levar o carro. Ampliando ainda mais a noção dos objetos matadores chegamos aos exércitos e ao enorme desperdício de dinheiro e trabalho humano na criação de armas de destruição em massa com a desculpa de defender a nação. Nossa, em pleno 2011 ainda não há diálogo o suficiente para os Estados pararem de legitimar suas atuações com violências permitidas e permissivas, todas destrutivas.
Pára. Vamos lembrar da questão do aborto? Ou quem sabe sobre a descriminalização das drogas, ou proibir as lícitas como o álcool que mata pra caramba nas ruas, avenidas e estradas de todo o país? Sim, vamos discutir a recente aprovação da união civil, quando na Argentina, nossos hermanos nos dão um banho de evolução e cidadania ao articular de forma decisiva as questões tão eloquentes nestes tempos em que nos situamos. Nestes tempos de confrontos de identidades, ou ainda identidades transitórias, as lutas por visibilidade e por democracias justas e limpas, objetivas e ligadas nesta imensa história de conhecimento que a raça humana produziu, são o único e definitivo caminho. É preciso que pessoas conhecedoras, por empirismo, autodidatismo ou aquelas que pesquisam nas academias e universidades, e “sabem” sobre o que estão falando e tem o que falar, se coloquem e se mostrem. Só com intelectuais das academias e das ruas, dos sertões e das veredas, pode-se iniciar uma breve pincelada sobre as infinitas questões colocadas com o tal KITdoMEK. Não com opiniões pouco refletidas, espontaneístas e até as vezes descabidamente retrógradas.
Neste sentido, lembro dos jovens, que quando então minha geração era jovem na década de 1990/2000, e até mesmo aqueles das décadas anteriores 1980/1970/1960... sempre se destacaram por estarem extremamente abertos as novas noções colocadas pelo cotidiano. E ainda, se percebe em todas as décadas um movimento estudantil descente e a luta por abertura seja política, ideológica ou comportamental. Ao que me parece, alguns jovens de hoje estão totalmente desprovidos de repertório e acabam reproduzindo comportamentos e atitudes socialmente nocivas, como avançar o sinal, furar a fila, etc. Porque isso é socialmente aceito, a diversidade e pluralidade sexual não. Corroborando Cazuza, Brasil, mostra a tua cara!
E, para terminar este desabafo de final de tarde, início da noite, de um dia estressante, lembro outra situação que tem muito haver com o KIT, e pelo menos, nos fará rir um pouco. Desta forma, quero lembrar de um recente depoimento de um deputado federal da Câmara dos Deputados, do Congresso Nacional, da República Federativa do Brasil. Falo do senhor que respondeu a Preta Gil no CQC que seu filho não ficaria com um mulher negra porque ele não era promíscuo. E da recente cena dele e de outra acessora creio eu, trocando pétalas e gentilezas atraís da entrevista da pobre da Senadora Marta Suplicy. Falo das asneiras preconceituosas e no mínimo cômicas que ele e outros parlamentares reacionários soltam quando na realidade deveriam calar-se, e assim, maquiar sua legislatura retrógrada, de pessoas realmente inteligentes e antenas nas teorias, necessidades e conflitos contemporâneos: Jesus Maria José!
A.Medeiros.